domingo, 25 de setembro de 2011

COMO VAI VOCÊ

             Bichos esquisitos que somos, de tempos em tempos criamos tempestades em copo d'água. E, se o copo cai, dividindo-se em mil fragmentos, ganha o nome de catástrofe. Que mal há nisso? Afinal, foi apenas um copo.
Acontece, meninas, que as palavras têm poder especial, que nem sempre sabemos avaliar. Elas geram emoções e transformam em verdade aquilo que foi só um desabafo. Ao chamar de "catástrofe" a queda do copo, você assume, pelo menos em parte, a emoção que se segue às catástrofes.
Pior é quando usamos palavras ainda mais fortes e pesadas nos diálogos cotidianos. Levados por uma irritação passageira ou um desentendimento mínimo, podemos dizer coisas como "Você está acabando com a minha vida".
A não ser que a outra pessoa esteja com um 38 na mão, o dedo no gatilho e a mira apontada para você, será provavelmente uma acusação injusta e destrutiva. Mas a vítima ouvirá a frase e registrará toda - ou quase toda - a carga emocional que ela contém.
Devíamos ter mais cuidado com nossas emoções. Em primeiro lugar, para não cometermos tantas injustiças. E, em paralelo, havendo necessidade de colocar as coisas em pratos limpos, seria saudável que escolhêssemos palavras menos ferinas, em vez de jogar o prato virtual na cara do acusado ou da acusada.
Ninguém - salvo se for pessoa loucamente descontrolada - gosta de se irritar, mas essa emoção costuma ser mais frequente que a do prazer, porque somos bichos muito doidos. Por qualquer dá cá aquela palha, expressão que ninguém usa mais, deixamos que o sangue nos suba à cabeça em volume maior que o normal. E do desentendimento nascem o confronto, a palavra ferina e a mais venenosa de todas formas de relacionamento: a ironia.
Vítimas da ironia jamais esquecem, assim como conservam na memória todos os episódios em que você passa da queixa banal para uma atitude tipo que nega a existência de qualquer sentimento de afeto ou simpatia entre vocês.
É incrível a facilidade com que perdemos o controle das emoções e das palavras e passamos da queixa à ofensa, sem etapas intermediárias. Nem todas as pessoas reagem assim, é claro. Algumas gritam, arrancam os cabelos e parecem histéricas. Outras não elevam a voz e até falam mais baixo, quando irritadas. Mas baixar o tom de voz nem sempre é sinal de paz. Ao contrário, pode significar uma declaração de guerra.
A qualidade do relacionamento amoroso se mede pela capacidade que tem o casal de esvaziar essas disputas, antes que comecem. Ou, na pior das hipóteses, pelo esforço conjunto para que a disputa não se torne uma competição entre egos feridos.
Não se trata de fazer silêncio por estratégia e para vencer na próxima curva, mas de lucidez para compreender que a questão é irrelevante. Todos sabem que o silêncio, tanto quanto as palavras e a ironia, pode ser arma letal, quando significa depreciação do outro.
Toda essa conversa anterior foi para levantar a tese de que a vida cotidiana, com suas ameaças e frustrações, é um campo minado. Se não soubermos desarmar as bombas que nos esperam no trânsito, no trabalho e no trato com estranhos, elas ganham efeito retardado e a explosão se dará no território do amor.
Lá fora há um bando de guerreiros que usa qualquer pretexto para fazer da vida um campo de batalha. Se você é um deles, tente não trazer as armas para casa. O amor é bom, mas frágil. E há uma pergunta a ser respondia, antes da guerra:
- Como vai você?
  
Jornal hoje em dia.
Tião Martins.

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